13 de fev. de 2018

O curso de Direito, um campo de luta. Quem tem ganho a batalha?

Estive estudando estes dias sobre Currículo e refletindo sobre as palavras de Antonio Moreira e Tomás Tadeu da Silva que afirmam que: “O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares.”

Olhei para nossos cursos de Direito e para o perigo que estão a correr diante da força que tem ganho a disputa do que colocar no currículo. Um tecnicismo voltado para empregabilidade com risco de cursos de curta duração em Direito (como bacharelado, mesmo!)...

Não há mais a preocupação em formar intelectuais, em promover acesso a um universo de cientificidade. Hoje a preocupação é o conhecimento rápido, os bizus, entrar no mercado de trabalho. Por isso a supervalorização dos professores multimídias, das aulas show, das apostilas e dos direitos esquematizados e descomplicados. Palavras de guerra, mantras, otimismo 24h horas por dia, podem anestesiar para a necessidade de lidar com os nãos, com os fracassos, com as frustações.

A proposta de preparar para o ingresso no mercado de trabalho não é ruim, mas eu me pergunto o que vão fazer estes profissionais ao chegar lá?

Ainda acredito que uma boa formação profissional em todas as áreas, e também na área jurídica, é uma formação para o amadurecimento das ideias, para a reflexão, para o questionamento e para lidar com as situações do dia a dia, até com as frustações. Acho que a melhor técnica foi a que aprendi com minha avó, que me permitia brincar, correr, me machucar e chorar, colocava-me no colo, passava um remédio que ardia no meu ferimento e soprava, e ainda completava: “Quando casar passa!”. Aprendi que a dor faz parte da vida e é necessária.

É preciso mostrar aos estudantes de Direito mais do que técnicas para realizar uma prova é preciso muni-los de um pensamento libertador, permitir que discordem dos livros e dos professores, que construam e reconstruam sua existência também pelo acesso ao universo das boas obras jurídicas.


Enfim, gostaria que da academia saíssem excelentes advogados, delegados, juízes, promotores, professores, profissionais do direito, mas que também de lá fosse possível sair cientistas jurídicos, que olhassem para o mundo com um olhar diferente e propusessem mudanças e novas teses. Mas para amar a ciência é preciso ter contato com ela e infelizmente isto não anda acontecendo nas nossas academias jurídicas. E pode ser que não sirva para todos, mas para quem gosta, a ciência é um estilo de vida fascinante.

2 comentários:

  1. No universo do início do séc xxi tudo tem que ser rápido, sem esforço (de preferência), sem tempo para maturação. As pessoas estão com dificuldade em aceitar um "não" e também estão com dificuldade de dizer um "não". Parece que tudo ofende e dói ... E dor não é uma sensação que o séc xxi tem permitido!

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