Estive estudando estes dias sobre Currículo e refletindo
sobre as palavras de Antonio Moreira e Tomás Tadeu da Silva que afirmam que: “O
currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões
sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais
e sociais particulares.”
Olhei para nossos cursos de Direito e para o perigo que
estão a correr diante da força que tem ganho a disputa do que colocar no
currículo. Um tecnicismo voltado para empregabilidade com risco de cursos de
curta duração em Direito (como bacharelado, mesmo!)...
Não há mais a preocupação em formar intelectuais, em
promover acesso a um universo de cientificidade. Hoje a preocupação é o
conhecimento rápido, os bizus, entrar no mercado de trabalho. Por isso a
supervalorização dos professores multimídias, das aulas show, das apostilas e
dos direitos esquematizados e descomplicados. Palavras de guerra, mantras,
otimismo 24h horas por dia, podem anestesiar para a necessidade de lidar com os
nãos, com os fracassos, com as frustações.
A proposta de preparar para o ingresso no mercado de
trabalho não é ruim, mas eu me pergunto o que vão fazer estes profissionais ao
chegar lá?
Ainda acredito que uma boa formação profissional em todas as
áreas, e também na área jurídica, é uma formação para o amadurecimento das
ideias, para a reflexão, para o questionamento e para lidar com as situações do
dia a dia, até com as frustações. Acho que a melhor técnica foi a que aprendi com minha avó, que me permitia brincar, correr, me machucar e chorar,
colocava-me no colo, passava um remédio que ardia no meu ferimento e soprava, e
ainda completava: “Quando casar passa!”. Aprendi que a dor faz parte da vida e
é necessária.
É preciso mostrar aos estudantes de Direito mais do que
técnicas para realizar uma prova é preciso muni-los de um pensamento
libertador, permitir que discordem dos livros e dos professores, que construam
e reconstruam sua existência também pelo acesso ao universo das boas obras jurídicas.
Enfim, gostaria que da academia saíssem excelentes
advogados, delegados, juízes, promotores, professores, profissionais do direito,
mas que também de lá fosse possível sair cientistas jurídicos, que olhassem
para o mundo com um olhar diferente e propusessem mudanças e novas teses. Mas para
amar a ciência é preciso ter contato com ela e infelizmente isto não anda
acontecendo nas nossas academias jurídicas. E pode ser que não sirva para
todos, mas para quem gosta, a ciência é um estilo de vida fascinante.
Excelente texto !
ResponderExcluirNo universo do início do séc xxi tudo tem que ser rápido, sem esforço (de preferência), sem tempo para maturação. As pessoas estão com dificuldade em aceitar um "não" e também estão com dificuldade de dizer um "não". Parece que tudo ofende e dói ... E dor não é uma sensação que o séc xxi tem permitido!
ResponderExcluir