1 de dez. de 2023

Discurso de Paraninfa (Profa. Adriana Ferro)


 E hoje é o dia da Colação de grau dos meus primeiros afilhados do curso de Pedagogia. Ser paraninfa é uma honra e uma responsabilidade muito grande.

Estou deixando registrado aqui o discurso que realizei na solenidade:

BOA NOITE A TODO/AS,

Queria inicialmente agradecer a alegria que me concederam ao ser escolhida como paraninfa da turma de vocês. E ser paraninfa, para mim, é uma missão que tomo de forma muito cuidadosa, porque etimologicamente, este termo, Paraninfo,  surgiu a partir do grego paránymphos, em que significa "ao lado" e nymphé quer dizer "noiva", ou seja, antigamente a palavra paraninfo era utilizada com o sentido de "padrinho ou testemunha de casamento", e se tem alguém que escolhido com muito zelo são os nossos padrinhos e madrinhas. E ser madrinha de vocês me deixou com uma grande responsabilidade, porque é aquele que aconselha, que zela, que cuida.
E nesses últimos tempos, assumi meio inconscientemente essa missão de cuidado, pensando com carinho em como minimizar os danos que a falta de professores e a pandemia gerou para a turma. Sei que não foi fácil, ver chegar a data esperada para a colação de grau e ela não acontecer por conta de acontecimentos que fugiam do controle de vocês. Mas, mesmo em meio a tantos obstáculos, encontrei uma turma resiliente, que teve que passar pelos desafios e saiu forjada no fogo e na tempestade. E vocês foram bambus que vergam, mas não quebram, ou seja adaptam-se aos intempéries e voltam a sua forma inicial após a ventania passar.
Foram mais de 4 anos e meio, como era o projeto inicial, foram quase 5 anos e meio. Mas chegamos nesse momento, e agora é tempo de colher com risos o que foi plantado entre lágrimas. Parabéns queridos!
O curso de Licenciatura de Pedagogia da Uespi de Piripiri, entrega para a comunidade do meio norte do nosso Estado e para a Mesorregião do Noroeste Cearense, esses valorosos Pedagogos e Pedagogas. Durante sua formação inicial, nas experiências proporcionadas pelo curso, muito mais do teorias educacionais foram discutidas, mas valores, discussões, compreensão de mundo e de pessoas, vivências de experiências docentes e desenvolvimento de habilidades socioemocionais foram trazidas para a compor todo o arcabouço de suas habilidades docentes.
E como de costume, afinal, sou uma contadora de histórias, eu vou refletindo sobre esse percurso todo até aqui e o momento que estamos vivendo agora e histórias vão chegando a minha memória. Falei há pouco do bambu que enverga mas não quebra, e agora eu me lembro da história dos 03 pedreiros. Alguns de vocês já me ouviram contar, mas vou pedir licença para contar novamente, nesse momento tão propício.
Era uma vez… Um senhor que estava caminhando por uma rua quando se deparou com uma construção, e viu algumas pessoas trabalhando concentradas em seus afazeres. Então o senhor chegou próximo ao primeiro pedreiro que estava suado, de baixo do sol de nossa terra, e perguntou a ele: "olá, jovem, o que você está fazendo?", o rapaz olhou pra ele, meio que aborrecido pelo senhor não entender algo que pra ele era tão claro: "Não está, vendo?", disse, "estou amassando cimento!". O curioso senhor, aproximou-se então de um outro trabalhador, e fez a mesma pergunta: "Olá, o que você está fazendo aí?", o pedreiro parou um pouco de amassar o cimento, que era a sua atividade naquele momento, colocou a enxada no chão e apoiando-se nela disse: "Ah, eu estou construindo uma parede!", o senhor sorriu com aquela resposta, e saiu para falar com um terceiro jovem, que também amassava o cimento, e novamente fez a pergunta: "O que você está fazendo aí, meu jovem?". Dessa vez, o interlocutor, além de parar e apoiar-se na enxada, abriu um largo sorriso, e apontou para a construção que já se desenhava em meio a paredes e andaimes, e apontando falou: "Olhe, não estás vendo? Estou a construir uma linda catedral!"
Diante dessa história eu fiz uma reflexão, recentemente, sobre a romantização da exaustão docente e queria também trazer para vocês:
Desde muito tempo se propaga a ideia de  que tem se ensinar por amor. Eu, particularmente, sou frontalmente contra essa "verdade" alardeada por aí.  Eu acredito, na verdade, que tem que se ensinar com amor.
E tem diferença,  professora? (Vocês poderiam me questionar) Tem sim! Uma enorme diferença.
Quando se fala de ensinar por amor, percebe-se a docência como sacerdócio,  com sacrifícios, que os professores têm que trabalhar muito, sem dia de descanso, em qualquer condição. E o professor que impõe algum tipo de limite, como descansar no fim de semana e desligar-se as 22h é visto como um mau professor,  porque ele tem que estar disponível sete dias por semana, as 24h horas do dia.
Já quando se ensina com amor, percebe-se que a docência deve ser realizada com excelência,  mas ela é um trabalho, uma profissão, e apenas uma das dimensões da vida do professor,  que tem família, amigos e horas para si.
Então pensando no trabalho pedagógico que cada um de vocês irão desempenhar, na condição de pedagogo, seja dentro ou fora da escola, mas tendo a educação como objeto de sua profissão, façam o trabalho com amor, vislumbrem as catedrais que estão construindo, percebam as mudanças que o trabalho ordinário, silencioso e diário trará para os que tiverem o privilégio de vivenciar o labor, mas não esqueçam que ser pedagogo faz parte da sua identidade mas não lhe define por completo, além disso vocês tem família, comunidade, amigos, e a inexorável obrigação de ser feliz nesse mundo tão caótico.
Para encerrar minhas palavras volto a reflexão sobre a missão de ser madrinha, paraninfa de vocês, e volto também a agradecer tamanha confiança em mim, para falar pela última vez a vocês na condição de formandos, porque já já vocês serão formados. Assim, me permitam realizar um ato muito própria das madrinhas, ministrar benção. E para isso vou fazer uso da benção Araonica, que está na Bilbia, no livro dos Números.
O Senhor te abençoe e te guarde;
Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça;
O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz.
Sejam felizes anjos meus, construam lindas catedrais, porque eu estou vendo as catedrais que eu ajudei a construir, amassando todos os dias o meu cimento.
Muito obrigada!


30 de nov. de 2023

Discurso de Descerramento de Placa (Professora Adriana Ferro)

 Uma das alegrias que tenho na docência superior é participar da comemorações de formatura dos alunos, após cumprirem suas atividades acadêmicas. E a turma que concluiu agora em 2023.1 me deu a alegria de discursar, tanto na sua solenidade de colação, como paraninfa, como no descerramento da placa.


E deixo vocês com as minhas palavras para a solenidade de hoje (30/11/2023), que será o descerramento:


Boa noite!
 
Muito feliz pela presença de todos vocês nesse momento de congraçamento e alegria.
Queria cumprimentar a todos e a cada um, mas especialmente gostaria de conversar com os meus queridos formandos.
Hoje estamos aqui para o descerramento da sua placa de formatura.
Em tempos de implantação de placas de formaturas digitais, é uma alegria poder ainda vivenciar o momento de desvelar fisicamente o marco da passagem de cada um de vocês pela instituição.
Fico muito feliz ao andar pelos corredores da UESPI e presenciar outros alunos da parados lendo as placas, buscando o nome dos seus conhecidos, apontando um egresso que conhece e, normalmente, com um sorriso no rosto, mas também é com maior alegria que eu mesma passo nos corredores e encontro meus ex-alunos eternizados em suas placas.
A universidade é um momento na vida profissional de vocês como pedagogos, um primeiro momento, por isso mesmo chamado de formação inicial. (não tem aquela história de que a primeira impressão é a que fica?, que o primeiro amor é inesquecível?, as vezes é difícil, mas mesmo assim é o primeiro...)
E essa formação inicial acompanhará vocês de forma indelével. Para sempre vocês vão dizer, nos espaços que vivenciarem: “sou egresso da UESPI”, ou ainda, “sou filho da UESPI” (em outras palavras a UESPI é casa-mãe de formação, de cada um de vocês).
E assim como nossos pais e mães, a UESPI tem seus problemas, mas também assim como aqueles que nos amam, ela se força, nas pessoas dos seus gestores, funcionários e professores, para oferecer o melhor dentro de suas próprias limitações.
E nesse momento uma história vai se criando no meu imaginário, quando olho para cada um vocês e vejo o quanto construíram até aqui.
Imaginei um passarinho que está no ninho. Durante muito tempo, desde que saiu do seu ovo, está acolhido em um pequeno ninho, em cima de uma grande árvore, o ninho nem sempre foi confortável: teve vento, teve chuva, teve sol escaldante... Mas mesmo diante de intempéries, e olhe que nasceu em um tempo cheio de desafios, ele sabia que estava em seu ninho, de certa forma era uma segurança. Ao mesmo tempo tinha uma grande vontade de conhecer o mundo, de voar alto, de fazer sua própria história de grandes aventuras. Então, um belo dia, disseram-lhe: pronto, seu tempo aqui chegou ao fim. Mesmo o passarinho já tendo tido alguns voos antes, já tendo visto parte do mundo pertinho do seu ninho, o medo de estar por sua conta e risco gerava um frio na barriga. Mas esse momento tinha sido muito sonhado, muito desejado, muito querido, e o passarinho, ficou na beirinha do ninho, olhou para trás, pensou em tanto vivido, tantos dias bons e outros tantos não tão bons, deu um grande suspiro, abriu suas asas, e ao abri-las deu-se conta de que elas estavam grandes, emplumadas, fortes. Deu um grande suspiro, encheu seus pulmões de ar, e aventurou um passo no infinito, alçando o voo mais longo até então. Aquele pássaro voou pelo universo e às vezes passava por perto do seu ninho, sentia saudade (mesmo antes achando que não ia sentir) e relembrava as aventuras até então vividas, percebendo que seu processo de formação o acompanhava mundo a fora.
Queridos, a árvore é a UESPI, o ninho é nosso curso de pedagogia, todo esse tempo foi desafiador, e a UESPI os reteve mais do que deveria, mas agora é hora de vocês estenderem as asas e voarem, é hora de deixar o ninho, e esse é o convite que faço a vocês voem, construam histórias lindas, e de vez em quando passem por aqui, venham nos dá notícias de suas histórias, sejam felizes, meus anjos.


Discurso de Paraninfa (Profa. Adriana Ferro)

 E hoje é o dia da Colação de grau dos meus primeiros afilhados do curso de Pedagogia. Ser paraninfa é uma honra e uma responsabilidade muit...