30 de jul. de 2011

Vestida para Ensinar


Impressionou-me vivamente a narrativa de vida profissional do Professor de Língua Inglesa Jay Parini, que leciona no Middlebury College, em Vermont, no seu livro “A Arte de Ensinar”. Talvez a surpresa com a leitura agradável decorra do preço módico do livro, comprado em uma promoção, desta de liquidação mesmo, mais pelo título do que por qualquer outro motivo. Mas a surpresa foi muito boa. Muitas de suas lições, com certeza, vão ser minhas companheiras daqui por diante. Aconselho a leitura, principalmente para os docentes, ou para aqueles que pretendem enveredar pelo universo da academia, de maneira nenhuma será perda de tempo.
Em um de seus capítulos, o autor dedica um tópico a falar sobre a vestimenta dos professores, começa com uma frase que eu nunca tinha refletido, mas que é a pura verdade:
“Muito depois de termos esquecido o que nossos professores nos ensinaram na faculdade, lembramos de suas roupas. As roupas têm suas próprias sintaxes e vocabulários, e contam mais do que parecem.”
A reflexão que Parini faz, a partir do vestuário dos seus professores e dos seus colegas de cátedra, me levou, também, a pensar sobre a minha própria maneira de vestir para ministrar uma aula.
Tenho minhas roupas de trabalho. Normalmente me encontraram transitando pelos corredores da faculdade vestida de calça comprida social de cor neutra (preferência para o preto, que é um coringa), e uma blusa que pode variar de acordo com o dia, podendo ir de uma blusa de tecido com mangas compridas, nos dias mais frescos (ou menos quentes), até blusas mais leves para o período mais quente do ano.
Nunca pensei que tivesse um estilo próprio, aliás, moda nem é muito o meu forte. Tanto é assim, que é comum lá pela metade do semestre um aluno (na verdade, normalmente é uma aluna) dizer, meio “sem querer”, frases do tipo “Eita, professora, a senhora gosta desta blusa” (acredito que pela repetição da mesma ao longo do semestre). Também não me incomodo, nem um pouco, em não ser a mais elegante das professoras. Certo dia, estava eu ministrando uma aula e após trinta minutos (dos cem que tenho que cumprir), o salto do sapato quebrou, uma lástima (até sou precavida, tenho sempre um par de sapatos no carro, mas não ia parar a aula por isto), tirei a sandálias e terminei a aula descalça, só depois providenciei uma solução para o problema.
Mas acredito que tenho um modo de vestir para trabalhar que me identifica e constatei isto um dia, quando ao entrar na sala dos professores, uma professora muito querida, levantou-se deu uma rodada e disse: - Olha, hoje estou vestida ao estilo Adriana ( ela estava de calça social de cor neutra e camisa de manga comprida, com uma blusinha por baixo).
Lendo o texto de Parini, fiquei pensando o que comunico com minha forma de vestir, qual a mensagem que procuro passar, mesmo que de forma inconsciente... Já houve um tempo, que ao ir trabalhar tentava parecer mais velha, para impor certa autoridade para meus alunos, mas esta época ficou no passado, já tenho idade suficiente para não precisar parecer mais velha. Eu acho que hoje a minha intenção ao vestir é tentar ser discreta para que o realce e o assunto da aula não seja a cor da minha roupa, ou o modelo do sapato, mas as nuances do conceito de crime ou as peculiaridade do crime de Maus-Tratos, acho mesmo que a intenção, hoje, é desaparecer para que o Direito seja o grande artista em cena. E eu concordo com Parini, ao terminar sua reflexão que “vale a pena todo professor universitário pensar em roupas como uma escolha retórica, e vestir-se de acordo com isto”.

2 comentários:

  1. Olha professora o autor tem toda razão, fui sua aluna e lembro perfeitamente o modo de vestir de cada professor, inclusive, fui influenciada por algumas. No seu caso, a impressão que tenho é de uma profª discreta e sensível.

    Abraços,

    Cecília

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  2. Adorei o texto. Concordo com tudo que foi dto a respeito da veste do professor. Apenas complemento ao dizer que sua veste principal é uma túnica branca, invisível,abstrada,tecida pelo amor, pelo comprometimento, pelo equilibrio emocional e pela vontade de ensinar e aprender. O professor aprende também com os alunos. Todo mundo tem algo para dar e ensinar.
    Professora Dilma

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