13 de mar. de 2011

A velhice: o desfio de ser idoso sem a obrigação de ser jovem.


As etapas da vida, como se encontram desenhadas atualmente, são uma invenção recente. Até o século XIX as crianças eram tidas como pequenos adultos sem qualquer importância para a sociedade, foi só a partir desta época que a infância passou ser compreendida como uma etapa do desenvolvimento humano e aos poucos galgou os degraus que a elevou, em nosso país, por exemplo, a uma condição que detém a condição de prioridade absoluta. Assim também aconteceu com a adolescência, bem mais recentemente, já no século XX, que ficou conhecido como o século da adolescência, onde esta foi estudada e reconhecida, com a descoberta da puberdade e das mudanças psíquicas[i]. Se o século XIX descobriu a infância e o século XX descobriu a adolescência, podemos fazendo um paralelo a grosso modo e dizer que o século XXI é o século da velhice.

Os animais não nasceram para envelhecer, seu ciclo de vida é definido pelo nascimento, pela maturação sexual, conseqüente procriação e morte. Eles apenas envelhecem quando em cativeiro, protegidos contra as doenças e os predadores. O ser humano, por outro lado, luta pela capacidade de envelhecer e de viver cada vez mais. Infelizmente, seu intento de imortalidade nunca será alcançado.[ii]

A velhice ao longo da história veio sempre acompanhada de um estereótipo pouco simpático, onde o idoso era visto como um estorvo, alguém que já não era mais produtivo, ou um doente real ou potencial. Em algumas sociedades o idoso podia alcançar o status de guru espiritual ou chefe tribal, mas esta função não era dada a todos os idosos. A elevação na expectativa de vida foi fundamental para que a velhice passasse a ter a preocupação que hoje alcançou, não só nas políticas públicas como no alcance de direitos e proteção contra a violência.[iii] No Brasi l “[...] a esperança de vida, que era em torno de 33,7 anos em 1950/1955, passou para 50,99 em 1990, chegou até 66,25 em 1995 e deverá alcançar 77,08 em 2020/2025.”[iv], desta forma o estudo da velhice e suas peculiridades tornou-se essencial porque todos nós temos real possibilidade de alcançarmos uma idade mais avançada.
Como durante muito tempo a velhice foi tida como uma fase de vida onde já não se era mais produtivo, onde o velho era acolhido pelos filhos e netos como uma obrigação indesejada, em muitos casos, ou era colocado em depósitos de gente, que eram conhecidos como asilos de idosos, a mudança de foco, o aumento da expectativa de vida e a importância que as pessoas com mais de sessenta anos passaram a ter na sociedade exigiu uma mudança também terminológica, para dar uma sensação mais eufêmica a esta fase da vida.
Os asilos passaram a se chamar casas de repouso, os velhos passaram a ser chamados de idosos ou de pessoas na “terceira idade”, ou como se tem ouvido mais recentemente pessoas na “melhor idade”. A velhice passou a ser vista como um estado de espírito, e os idosos querem manter seu espírito sempre jovem.
Manter a juventude eternamente é o sonho da humanidade desde que esta se reconheceu como tal, e está presente em todas as sociedades seja na mitologia, seja na recompensa em estados metafísicos pós-morte, todavia a busca pela juventude eterna impede, muitas vezes, que as pessoas vivam plenamente cada fase de suas vidas, com as peculiaridades que cada uma possui.
Ser velho, idoso ou está na terceira idade com qualidade não é ser jovem de espírito, mas é ser velho em plenitude, porque ser velho não é ruim, não é degradante, pelo contrário, é ter alcançado uma fase da vida que deve ser almejada, porque como diz o dito popular “só não envelhece quem morre cedo”, é ter acumulado uma larga experiência em muitos campos, é poder ser referência de vida. Negar à velhice a sua importância, enquanto fase de vida, é negar ao idoso a possibilidade de ser idoso, e obrigá-lo à procura eterna da juventude que nunca será alcançada.
Chegar aos sessenta, setenta, oitenta ou mesmo ultrapassar os cem anos com vitalidade e saúde, o que tem sido cada vez mais comum, não é sinônimo de uma juventude prolongada, mas é a grande possibilidade de se reconhecer que a velhice é uma fase de vida que não é sinônimo de doença, fragilidade, debilidade ou estorvo, mas assim como qualquer fase do desenvolvimento humano tem sua beleza, seu encanto e seus problemas e deve ser estudada e tratada como a fase que é.


[i] LEPRE, Rita M. Adolescência e construção da identidade. Disponível em: <http://psicologia.org.br/internacional/pscl36.htm>. Acesso em 29 jan. 2010.
[ii] SANTOS, Geraldine A. dos. Os conceitos de saúde e doença na representação social da velhice. In: Revista Virtual Textos & Contextos, nº 1, nov. 2002. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/937/717>. Acesso em 29 jan. 2010.
[iii] Em 2003 foi sancionada a lei 10741, mais conhecida como estatuto do idoso, que tem protege as pessoas com mais de 60 anos de idade.
[iv] ALMEIDA, Thiago de. Amor e sexo após os 60 anos:utopia ou realidade. Disponível em: <http://thiagodealmeida.com.br/site/files/pdf/artigo5.pdf>. Acesso em 29 jan. 2010.

Um comentário:

  1. É uma boa leitura e reflexão, recentemente tive a oportunidade de conhecer a situação do idoso em Teresina e de estudar sobre os D.H e a pessoa idosa, a situação é realmente lamentável, pior do que isso é constatar que em 99% dos casos a violência, impaciência e pressão são domésticas, na própria família. No interior a situação é bastante pior. Voltando ao tema do post, admiro demais a vida pacata, caseira, cheia de amor e sem aventuras que meus avós maternos levam no interior, é por aí, algo como um descanso de quem travou e venceu uma grande guerra contra a pobreza e as adversidades da vida ao longo de 75 anos para proporcionar tudo o que os filhos e consequentemente os netos têm hoje. Ou devo levá-los para micaretas, estádios e barzinhos a fim de aguçar neles este mitológico instinto "forever young"? Daniel.

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